sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Artistas


Somos homens que vivem
No eterno momento que precede a guilhotina
Por medo de perder a cabeça
Deixamos que ela voe para longe do corpo

sábado, 20 de junho de 2009

O médico e o presidente


:: Feliz. É bom comparar passado e presente. ::

Fui ao médico homeopata hoje. E agora, sinto-me história.

Profunda e hermética, às vezes. Rasa e mineira, quase sempre. A questão é que hoje sou história. Sempre fui, eu acho. Uma história que poderia ser escrita com cheiros, músicas, imagens e lágrimas.

Nesse momento, sou o umbigo do mundo de mim mesma. Aquele umbigo que meu amigo mestre da fuga apelidou de a marca do "está pronto". Mas eu não estou pronta. E, por isso, sou o umbigo mais mentiroso que já existiu. Afinal, sou história. Imortal, transformadora e arquejante. As minhas certezas do dia são as dúvidas da noite. O sonho questiona a vigília. Sou história.

Tancredo também é história e, posso garantir, enquanto fofocava com o mordomo - minha posse é coisa certa! - foi possuído pelos braços da morte. Sua glória, talvez. Sou Tancredo, então. Quando quero abandonar e em seguida amo a companhia dos cachos. Quando quero fugir e logo depois crio uma lista precisa das ações necessárias para ficar. Sou Tancredo. Deslizo pelas vicissitudes, balanço nas várias direções do mar. Sinto-me páginas, mais do que nunca.

Bem, acho que vou fazer meu floral na farmácia mais próxima.

Gaveta de lágrimas


:: Direto do estranho ano de 2005. Enfim, o tempo passou. ::

Quando tudo parece irreal, e o meu lugar foge de casa, eu liberto algumas lágrimas velhas que insistem em se internar no meu corpo-hospício. Digo a elas que estão curadas, pois longe dos meus olhos o sal vira sanidade e distante do meu rosto a água vira santidade. Eu grito: líquido ancião, evapore! E já nesse momento, sinto a corrosão da inveja. Sonho com o calor que me faria evaporar, mas continuo louca e concreta, esperando o real me engolir. Dentro de mim, o lago de dores inefáveis vai se acalmando em absurdos para que tudo pareça normal. E o meu lugar, enfim, me pede perdão. Até a próxima fuga.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

A equilibrista


Num é pussive que uma coisa assim
Se acunteça pra mais de cem veis
Sem que na cabeça dura duma equilibrista
Num entre um quezinho siqué de equilibrismo


Se a arteira sabe inté amestrá corda pindurada no céu
Que santo num vai ajudá a coitadinha a amestrá gênio ruim?
É bem certo que o tombo no circo é de ardência inferior
Modiquê as queda da vida rumam pra buraco mais fundo

(Daqueles que cabe toda a água de mar
Se ele existisse nessas banda seca de sal
E toda água de rio
Se ele vivesse nesses lado pobre de leito)

O mais danado é que a equilibrista
Não carece de comida boa ou cama quente
Muito lhe deu Nosso Senhor Seja Louvado
Mas a amargura dos homi só adoça com maidemil quilo de açúcar

Lá no alto do trapézio, diz ela, nem vóis, nem palma
Nem pedido, nem amô pode chegá
Se é assim, é só a disubidiente esticá as mão
E pedi auxílio do Divino
Inveis de fechá os óio pra se espiá a si própria mais de perto
E perdê toda a beleza que pipoca na lona cheia de cô


Casa nova


Nos meus porões, eu guardo
O caminho que me distancia de Ti
Sob meus pés, porém, eu revelo
Pesadas pedras que tiro do peito
Delas faço trilha, berço - e me embalo
Sentindo Seu toque sobre as pálpebras
Então, diante de mim, eu Te vejo
Mesmo que as minhas feridas
Ainda me ceguem um pouco
Por isso, peço, Senhor


Limpe comigo o quarto escuro
Faça de mim arquiteto do seu amor
Ajude-me a perceber nova chama
Sopre para longe a poeira e o temor

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Partida inerte


Quando entrei naquela casa
Cercada de terra fértil por todos os lados
Evaporei a ilha que há muito
Se escondia em mim
E tive vontade de abraçar
- um corpo qualquer, um tronco vivo -
Sendo tímida em demasia, porém
Engoli o quase-toque
Fui embora
Vi-me sozinha novamente
Pronta para lançar-me ao mar


Meu refúgio tão turbulento


Sim
Eu mesma outra vez

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Simples

:: Amo. E só. ::

sábado, 17 de janeiro de 2009

Picadeiro Parido

No assoalho, vi uma flor
A sombra que na luz virou amor

Eu, palhaço apaixonado
Bambeei e caí espatifado

Tirando risos da criança
Que achou que era passo de dança

E na fuga de uma menina
Ri na dor que alucina

Usando a pintura
Para esconder a amargura

O tempo cuidou de tudo
E num encontro um tanto mudo

Revi minha pequena meretriz
Sem sombra, com o brilho por um triz

Virei herói e salvei a amada
Matando a tristeza engasgada

Costurei sonho, paixão e céu
Ela, vestido, grinalda e véu

Na pequena Colono, fizemos risos
E muitos filhos sob seus cabelos lisos

Abençoados por um anjo caído
Que virou mágico no Picadeiro Parido

E os deuses deixaram bonita a cena
Para pôr um fim nessa história pequena

sábado, 3 de janeiro de 2009

Salvação


É estreito o corredor
Que me envolve rumo ao céu
Mal posso abrir as asas


Solta, iria à chama da Terra

Para flanar, possuo apenas
A imaginação
E o leve impulso de seres invisíveis

Subo e desço, vivendo entre paredes

O tropeço é meu jantar à luz de velas
Em que me alimento
Sem saber do gosto das queimaduras

Meu corredor jamais será labirinto
Meu corredor jamais será selva
Embora, às vezes, para mim
Eu ainda minta