quinta-feira, 19 de junho de 2008

Árvores internas


:: A solidão é fria, mas, ainda assim, o calor continua fazendo parte do mundo. No meu peito, é só a primavera que ainda não chegou. ::

Tecidos

Em tanque de sangue e madeira
Lavei com sabão minhas certezas
De tanto esfregar, tanto e tanto
Ficaram elas desbotadas
O tecido frágil se desfez em partes
Fios soltos, furinhos, o todo
Não mais posso vestir minhas certezas
Hoje gastas de cloro, o gosto
E para não sair, ver vitrines
Nua, crua e despida
Uso, me enrolo, me aqueço

Em grosso casaco de dúvidas


Novelo de lã (Tecidos II)

Assim feito novelo de lã
Tenho vivido

A linha espera, se enrola
E tece oníricos vestidos
Entre agulhas pontudas
Moram no mundo os tecidos
Sofrem, padecem, enlouquecidos
Trespassados e enterrados
Saltam os pontos meninos
Ponto cruz ou ponto luz
Que pouco a pouco seduz
A incabível verdade
Quanto mais costuramos a dor
Mais rasgamos com a mão
De uma forma desajeitada e triste
Todos os cantos do coração
Deixo então exposta a funda ferida
Pois quanto mais me cubro
Mais me sinto despida

Assim feito novelo de lã
Tenho vivido

Tenho morrido

2 comentários:

Irma mais velha disse...

Irma, te admiro muito!
Impressionante reconhecer a mulher forte que se esconde (ou se disfarca) atras da menina doce que voce "se tornou"...
Me vejo em suas palavras...te sinto e te amo cada vez mais (como se fosse possivel)!!!
Vc arrasa!

Sylvia disse...

Minha filha, meu orgulho, minha atriz preferida!! Vc é linda demais... Te amo!!!!