:: Hoje sinto-me doce e aquecida.::
Forminhas de gelo transbordam dias em meu congelador congela dor com gelador. Dias endurecidos e frios, pequenos submarinos em um whisky que eu nem bebo, pequenos mergulhadores em um suco de abacaxi, ácido, assíduo.
Buracos no estômago são espaços para a água ainda quente de um morto ainda quente de um amor gélido gel e dor. Mas os dias são também cáusticos castigos e compensam o freezer deitado ao meu lado. Dormir com um freezer é melhor que dormir só...
Copos de geléia sem geléia não servem para nada. Constatei essa verdade dias atrás e decidi jogar todos os copos de geléia fora, mas a idéia de que eles ainda estarão em algum lugar do universo me deixa irritada e aturdida. Não posso sumir com os copos de geléia e nem passá-los no pão durante o café da manhã. Vidros cortariam minha gengiva, dentes cortariam minha língua, e eu nem sei que parte de mim ainda está inteira, embora me sinta mais plena do que nunca.
Em meio à tempestade de ratos, um gato engole vento e continua com fome. A vida é assim para os gatos tranqüilos e magros. Nem sempre penso no espaço entre os ratos, o mesmo espaço entre as gotas de chuva que nunca é atingido e molhado. Nesse vazio, imagino, deve morar a tristeza que, sendo impermeável, não deixa se vestir de pingos. A tristeza não suporta a água e expulsa todo resquício de lágrimas dos olhos do mundo todo.
Nem sempre penso assim em forminhas de gelo. Na verdade, nos últimos tempos congelados, tenho pensado muito em gelo picado e batido de uma caipirinha que eu nem bebo, mas sinto. Esse momento lúgubre saiu então da garoa de ontem ou de um golpe de ar? Ele passa. É como esvaziar forminhas. Minhas. E encher tudo de novo ao relento. Lento. Para levar ao forno enquanto tomo um café. Sem geléia.